Vista aérea de Araçatuba |
A manhã tão fria aquecida pelo potente Sol da Noroeste como cobertor macio e fino que só abriga o corpo de uma intempérie mais “daneira” mas, com cuidado deixa passar o natural alento do começo do inverno e uma vontade de ali ficar enrolada no abrigo, quase pouco, e sentir que nem sempre o forno nosso do dia a dia precisa existir sem pausa. Lá de cima, num décimo primeiro andar ,contemplo e me maravilho com a extensão de natureza que ainda nos cabe ao redor da nossa cidade ,mesmo já tão alterada pelo cultivo de tantas agriculturas ou pelo passo lento do gado resignado pela morte que é certa ,mais para ele que para nós, humanos, mas tão certa nos é também, embora sem tempo marcado, só sabido e não cultivado porque é tão imprevisível o modo e a hora! O gado sabe ,tenho certeza. Talvez por isto coma devagar para evitar peso certo. Antes do horizonte traçado lá na curva do globo terrestre, desde que vim para meu céu, só a relva ou a cana de açúcar e o pouco rebanho me faziam vista, até que bairros planejados aumentaram as luzes no anoitecer, trocando estrelas no céu por estrelas no chão. A arborização foi imediata e hoje quase esconde casas e outras construções de pequeno porte. Ainda é bonito de se ver e deixar o pensamento ultrapassar as barreiras do horizonte para encontrar o que eu quiser lá na frente. De um lado do apto tenho vista para o caminho certo do Tietê que risca nobremente minha telejanela de forma tão delicada que há quem duvide que é ele, o majestoso caminho dos bandeirantes. Para este mesmo lado Araçatuba se estica, abre os braços e por onde cresce, as luzes noturnas demonstram que este organismo urbano cresceu tanto que esfria os pés no limpo e largo rio Tietê. Hoje até nos abastece com toda dedicação de pai. Reclamei com a chuva que passou aos urros e uivos declarando presença já mas, namorada do vento correu com ele e caiu pro lado dele, quase longe ou muito perto só deixando o rastro frio que me obrigou a me abrigar na coberta improvisada. E a água do céu correu além do meu horizonte deixando para trás nuvem fina, neblina que me lembra a infância amanhecendo na fazenda da bisa Romana. E lá a jabuticabeira exibida, negrinha do chão à copa convidando minha gulodice a fazer parte da mesa posta. Alta e esguia, com sorriso aberto e pão quente saído do forno no prato, já amanteigado, ela e eu, apreciando o fruto no pé e saboreando pão e café fraquinho, só para criança. Um horizonte aquém no tempo mas tão próximo fisicamente falando. Coroados é logo ali! Quase vejo da janela do lado de lá. Ainda caminhando a passos largos , minha doce terra deixou – se fazer canavial de mais de mil .O novo preço para o Brasil caminhar sem furar o chão e poluir menos nosso ar. ETANOL e GADO no mesmo espaço não combina e a “Terra do Boi” assumiu novo papel , mudou o cheiro , mudou o horizonte para um verde especial , fumaça fina das usinas e ainda sobrou espaço para quase ver Birigui .Tenho este privilégio de estar quase no espaço sideral e , do alto amar cada cantinho que vejo , mesmo à boa distância .É amor umbilical , quase incondicional porque não sei me calar se vejo Araçatuba machucada pelo descuido dos meus irmãos de terra ou mesmo dos que juraram que cuidariam dela. Quem veio para atrapalhar, que saia de mansinho e vá para outro lugar. Quero e exijo cuidado com todos os ipês , patas de vaca e tudo o mais que possa florir e refrescar nosso ar neste espaço. Não aceito podas sem capricho. Lixo?! Ou despreparo estão fora. Por onde eu passo, vigio! Façamos todos um grande laço entorno desta cidade. Crescer mais nem precisa . Já está de bom tamanho para ter menos problemas. Se a noite nos convida para um toque de violas , sanfonas ou guitarras , sejamos um pouco “cigarras” para a alegria das noites daqui .E quando o dia amanhece vá pro seu trabalho construir esperanças e certezas. Cada um tem seu ponto de vista mas, sem descuido, amemos o que é nosso. Quem ama cuida. Cuidemos de Araçatuba nem que seja aos gritos .
*Yara Pedro de Carvalho, musicista, escritora, atual presidenta da Academia Araçatubense de Letras
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